Biodiversidade e guerra: Imortalidade para quem, se o planeta está morrendo?
- Denise Curi

- 9 de set.
- 3 min de leitura

Você quer viver 150 anos… em um planeta devastado?
Enquanto alguns sonham com a vida eterna, a biodiversidade se desfaz em silêncio diante de nossos olhos.
Uma conversa vazada. E uma pergunta inevitável.
Em setembro de 2025, durante o maior desfile militar da China em décadas, os olhos do mundo estavam voltados para as novas armas de guerra: robôs armados, drones hipersônicos, mísseis nucleares.
O que não estava no roteiro, porém, foi o que mais chamou atenção.
Um microfone aberto captou uma conversa entre Xi Jinping, Vladimir Putin e Kim Jong-Un. Em tom descontraído, discutiam avanços na medicina regenerativa, transplantes em larga escala e até a possibilidade de a humanidade viver até os 150 anos.
Enquanto isso, o planeta arde. Ecossistemas colapsam. Solos se envenenam. Animais desaparecem.
O que significa desejar a imortalidade… em uma Terra que talvez não sobreviva aos próximos 50 anos?
O outro campo de batalha: a natureza
As guerras modernas não destroem apenas edifícios e vidas humanas. Elas abalam também a base da vida no planeta: florestas, oceanos, solos férteis, insetos polinizadores, ciclos migratórios e cadeias alimentares.
Existe uma área da ciência que estuda isso: a ecologia da guerra (warfare ecology). Ela mostra que os conflitos armados deixam um rastro ambiental profundo — e muitas vezes irreversível.
Impactos recorrentes:
fragmentação e destruição de habitats naturais;
contaminação de solos com metais pesados e resíduos bélicos;
poluição de rios e aquíferos;
extinção local de espécies;
interrupção de rotas migratórias e reprodução animal;
crescimento descontrolado da caça e do desmatamento.
Ucrânia: a terra envenenada
Desde o início da guerra, mais de 1,2 milhão de hectares de áreas protegidas foram impactadas. A explosão da barragem de Kakhovka, em 2023, lançou dezenas de milhares de toneladas de metais pesados no Rio Dnieper e no Mar Negro.
Solos de alta fertilidade, como o chernozem, foram contaminados por urânio empobrecido, chumbo e mercúrio. É como se as fundações ecológicas do país tivessem sido minadas.
Uma floresta espontânea começa a crescer sobre o leito seco da represa — mas especialistas alertam: por baixo das folhas, há um legado tóxico e silencioso.
Gaza: destruição e colapso ambiental
Na Faixa de Gaza, os bombardeios e a destruição de infraestrutura causaram mais do que sofrimento humano. Segundo a ONU, 80% da cobertura vegetal urbana foi perdida, e quase 40% das áreas agrícolas foram comprometidas.
Com o colapso do sistema de saneamento e o acúmulo de resíduos tóxicos, o solo, o ar e a água doce estão seriamente contaminados. A biodiversidade costeira também está em colapso.
Como a biodiversidade é afetada pelas guerras modernas
A biodiversidade raramente entra nas estatísticas de guerra — mas ela é uma das maiores vítimas.
Abelhas e insetos polinizadores desaparecem com o uso de explosivos e pesticidas.
Aves migratórias abandonam territórios onde sempre pousaram.
Mamíferos e répteis morrem ou se deslocam, rompendo cadeias ecológicas locais.
Fungos e microrganismos do solo — invisíveis, mas essenciais — são destruídos por contaminantes.
Durante a guerra civil de Moçambique, o Parque Nacional da Gorongosa perdeu 90% de seus animais. A recuperação levou décadas. E mesmo com todos os esforços, há perdas que nunca serão revertidas.
Ecocídio: quando destruir a natureza se torna um crime
O termo ecocídio vem ganhando força em tribunais e debates internacionais. Ele se refere à destruição intencional, sistemática ou irresponsável do meio ambiente — inclusive como arma de guerra.
A Ucrânia já levou denúncias à Corte Penal Internacional por crimes ambientais durante a invasão russa. ONGs propõem que a devastação ambiental em Gaza também seja reconhecida como crime de guerra ambiental.
Se arrasar cidades é inaceitável, exterminar ecossistemas inteiros também deveria ser.
E ainda há esperança?
Sim — mas ela depende de ação e não de tempo.A natureza é resiliente. Ela encontra caminhos de regeneração mesmo sob ruínas, como vimos na floresta que nasceu sobre o reservatório de Kakhovka.
Mas a regeneração exige paz, investimento, tempo e compromisso ético. Sem isso, não há futuro nem para a biodiversidade nem para a humanidade.
A pergunta que não quer calar
Mesmo que alcancemos avanços extraordinários em biotecnologia...
Mesmo que possamos viver 150 anos…
O que é que vamos viver, se o planeta estiver morto?
Sustentabilidade é um pacto com a vida — não com o poder
O sonho da longevidade só faz sentido se estivermos dispostos a preservar a vida ao redor — e não apenas o nosso corpo.Sustentabilidade não é apenas uma sigla ou um plano de metas.
É uma escolha:ou regeneramos o planeta juntos, ou seremos os últimos a ocupar um trono sobre uma terra vazia.



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