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O impacto da agricultura 4.0 na sustentabilidade

Foto do escritor: Denise CuriDenise Curi

Desenvolvimento tecnológico na agricultura


Tecnologia e sustentabilidade: agricultura 4.0

Em 1798, Thomas Malthus publicou a famosa "teoria populacional malthusiana", que afirma que a população tende a crescer mais rápido que os recursos. De acordo com sua teoria, a população cresce em progressão geométrica e os recursos em progressão aritmética. Hoje, sabe-se que a teoria de Malthus continha alguns erros:

  • O crescimento da população humana, que Malthus acreditava ter atingido o pico durante sua vida, aumentou de forma exponencial nos últimos três séculos.

  • Ele não previu os avanços da medicina, nem o progresso dos laboratórios farmacêuticos no desenvolvimento de medicamentos e vacinas super poderosas para doenças como varíola, por exemplo.

  • Em sua época, os sistemas de esgoto eram inexistentes, a água não era tratada, e a iluminação urbana era precária. Hoje contamos com grandes avanços de infraestrutura, e o uso de tecnologia na agricultura tem garantido o abastecimento de alimentos para toda a população.

  • Da mesma forma, ele não previu os avanços tecnológicos na infraestrutura da saúde pública, nos equipamentos hospitalares, ou na telemedicina.

  • Malthus também não conheceu o potencial da internet, capaz de reunir, virtualmente, cientistas de todo mundo na cura de uma doença, tal como aconteceu com a Covid-19.

Ou seja, a teoria de Malthus não se concretizou, afinal, estamos vivos!

Distribuição desigual

Estamos vivos. E apesar de todos os avanços tecnológicos e científicos ainda temos: 820 milhões de pessoas que sofrem de fome crónica; 49.5 milhões de crianças menores de cinco anos padecem de desnutrição crónica (baixa estatura para a idade); quase 149 milhões de crianças possuem atrofia devido a falta de alimentos; e, em 2015, cerca de 20.5 milhões de bebês nasceram com o peso abaixo do ideal, conforme dados da ONU. [1]

Mas então, por que pessoas ainda morrem de fome?

Porque a comida é mal distribuída. Regiões mais ricas têm excesso de alimentos, gerando inclusive o desperdício e o sobrepeso. Estima-se que o desperdício de alimentos, incluindo a energia utilizada na produção, e até os alimentos que apodrecem nos aterros sanitários, representa 8% das emissões globais de gases de efeito estufa [2]. Cerca de 25% de toda a carne produzida – o equivalente a 75 milhões de vacas – não é consumida!

Enquanto isso, as regiões mais pobres não têm acesso à comida, saneamento básico; educação; e muito menos saúde.

Distribuição global da fome by Global Hunger Index (2012)
Distribuição global da fome by Global Hunger Index (2012)

De acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas (Nações Unidas, 2019),[3] a população mundial deve passar dos atuais 7,7 bilhões de indivíduos para 9,7 bilhões em 2050, chegando a quase 11 bilhões de pessoas em 2100. Nove países irão responder por mais da metade do crescimento estimado para a população global: Índia, Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia, Indonésia, Egito e Estados Unidos (em ordem decrescente de aumento esperado). Por volta de 2027, estima-se que a população da Índia supere a população da China.

Esses números mostram que as populações que crescerão mais são as dos países mais pobres, com exceção dos EUA, aumentando os desafios para erradicar a pobreza, alcançar uma maior igualdade, combater a fome e a malnutrição, e fortalecer a cobertura e a qualidade dos sistemas de saúde e de educação. As mais altas taxas de crescimento populacional ocorrerão em áreas que dependem do setor agrícola (agricultura, pecuária, silvicultura e pesca) e que têm altos níveis de insegurança alimentar. O crescimento no setor agrícola é uma das formas mais eficazes de reduzir a pobreza e alcançar a segurança alimentar (FAO, 2020)[4].

Mudanças climáticas e a produção de alimentos

As mudanças climáticas poderão intensificar ainda mais os problemas relacionados a produção de alimentos. Não podemos nos esquecer que a mudança do clima poderá provocar reflexos nas culturas que hoje são produzidas em determinadas regiões: algumas áreas poderão tornarem-se desertos, enquanto outras áreas, inundadas.

Lei da oferta e da procura: quando a oferta de um produto diminui, seu preço aumenta

De acordo com a agência DW, no sul da Índia, por exemplo, a produção de arroz pode cair 5% até 2030 e mais de 14% até 2050. Já nos Estados Unidos a produção de milho e soja pode cair em até 80% nos próximos 60 anos. Com a queda de produção, a tendência é um aumento no preço dos produtos agrícolas.

Deste modo, o desafio da FAO é garantir a produção de comida em quantidade suficiente para alimentar adequadamente todos os habitantes do planeta, garantindo que o aumento de produtividade não beneficie só alguns, e que a base de recursos naturais proporcione serviços que melhorem a sustentabilidade (a polinização, o ciclo de nutrientes no solo, a qualidade da água, etc.).

A ironia está no fato de que os aumentos de áreas agrícolas podem acelerar ainda mais os problemas ambientais. E isso ocorre devido ao desmatamento para a formação de áreas de plantio e o aumento de rebanhos bovinos, suínos e caprinos que contribuem com a eliminação dos gases do efeito estufa (GEEs).

Uso de tecnologias em prol da sustentabilidade

O uso de novas tecnologias na área de melhoramento genético, da mecanização, do plantio direto, dentre outras tantas inovações, vêm contribuindo para o aumento da produtividade agrícola, em todo o mundo, de forma mais sustentável.

Na agricultura 4.0 são utilizadas máquinas, veículos autônomos, drones, robôs e até animais com sensores a fim de se evitar perdas e o ataque de pragas. A tecnologia Blockchain pode auxiliar no sentido de rastrear toda a cadeia produtiva garantindo as boas práticas de produção. Bigdatas auxiliam na tomada de decisão, tornando-a mais precisa e rápida. O uso destas tecnologias está contribuindo para o crescimento das smart farmings e provocando mudanças significativas nas profissões do futuro.

Smart Farming é um conceito de gerenciamento agrícola que utiliza tecnologia moderna para aumentar a quantidade e a qualidade dos produtos agrícolas. Os agricultores do século XXI têm acesso a GPS, varredura do solo, gerenciamento de dados e tecnologias da Internet das Coisas. Medindo com precisão as variações dentro de um campo e adaptando a estratégia de acordo, os agricultores podem aumentar bastante a eficácia de pesticidas e fertilizantes e usá-los de maneira mais seletiva. Da mesma forma, usando técnicas de Smart Farming, os agricultores podem monitorar melhor as necessidades de cada animal e ajustar sua nutrição de forma correspondente, prevenindo doenças e melhorando a saúde do rebanho (FAO, 2018) [5].

Drones na Agricultura 4.0

O Smart Farming é a aplicação das modernas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na agricultura, levando ao que alguns autores chamam de Terceira Revolução Verde.

Porém a utilização de novas tecnologias na agricultura não é uniformemente distribuida ao redor do planeta. Enquanto nos Estados Unidos até 80% dos agricultores usam algum tipo de novas tecnologias, na Europa seu uso não é superior a 24%, e em alguns países mais pobres, o uso dessas tecnologias ainda é uma realidade distante. [6]

Em toda a União Europeia, vários incentivos estão sendo oferecidos (no campo da pesquisa) para reverter esse quadro e aumentar a presença das fazendas inteligentes. E nos países mais pobres?


Para aqueles que temem a tecnologia, há um paradigma a ser rompido. O uso de tecnologia na agricultura, não é uma tendência - pelo menos nos países mais ricos. É uma realidade, que cada vez mais vem sendo utilizada para derrubar a teoria de Malthus:

A produção de alimentos pode sim acompanhar o crescimento populacional, mas para isso temos uma dura tarefa pela frente, que envolve principalmente a garantia de uma distribuição de alimentos de forma mais equitativa, e a reestruturação e reflexão do nosso comportamento em relação ao consumo.

 

Referências:


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