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O QUE NÃO ME MATA, ME TORNA MAIS FORTE, “PÁ”!

Para Nietzsche, o homem saudável, em sua constituição física e espiritual, é capaz de fazer do desafio e da dificuldade, a expressão de sua potencialidade e a realização de sua existência. Por que simplesmente carregar um fardo, ao invés utilizá-lo como instrumento para exercitar o nosso poder de superação? Parece que é isto que Portugal está fazendo, superando-se. E ao invés de simplesmente carregar o fardo está a aproveitando as oportunidades que este difícil momento tem a oferecer. E deste modo, nesse novo normal que se desenha, Portugal poderá sair mais forte. A ironia é que, o que torna Portugal mais forte, é justamente o que tentou matá-lo. Assim, como aconteceu no Brasil, na década de 1990, a indústria têxtil portuguesa foi “detonada” pela indústria têxtil chinesa. Em 2014, havia uma quantidade muito grande de fábricas fantasmas ao longo de todo país. Uma matéria do Público de 2014, mostrava que pelo menos umas duas mil empresas, do setor têxtil, simplesmente desaparecem do mapa. Entre os anos de 2005 e 2006, mais de 500 empresas do norte faliram, e mais de dez mil pessoas perdem o emprego na sequência do encerramento ou de processos de reestruturação. Na região de Covilhã, antigo cluster da indústria têxtil e de lanifícios portuguesa, a situação não foi diferente, inúmeras fábricas tornaram-se prédios vazios. Mas, no caso da indústria de lanifício, os grandes concorrentes foram para a Espanha e Itália, em meados da década de 1970. Dos 50 lanifícios da região, restaram apenas 4 ou 5. Mais tarde, esses países também sofreram com a concorrência chinesa. Como o país não tinha condições de enfrentar uma concorrência acirrada com a China, a decisão mais inteligente era posicionar-se no segmento médio/alto da cadeia, e deixar para os asiáticos a parte mais baixa da cadeia. Assim, a indústria t êxtil investiu em qualidade e eficiência. E nessa investida, contaram com a ajuda do CITEVE, Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal. O CITEVE é um centro de excelência focado na inovação do setor têxtil e de vestuário, e é dono do selo AEKO-TEX, que certifica a qualidade dos produtos têxteis europeus. O resultado foi uma indústria têxtil organizada, com a cadeia produtiva integrada, os fornecedores localizados em regiões próximas (em um raio em torno de 50 quilómetros em relação as unidades produtivas). Essa estrutura garante o controle das diferentes etapas do ciclo de produção e agilidade para atender as mudanças da moda, além evitar a espera por produtos importados. Contudo, ainda hoje, mais de 85% de toda a roupa consumida na Europa provém da Ásia, o que mostra uma Europa refém da indústria asiática. Fato que foi percebido recentemente, em um péssimo momento! A necessidade de preparar os hospitais, para uma guerra contra uma pandemia que chegou sem avisar, gerou um corrida de diversos países pela compra da indumentária das equipes de saúde. E onde está a produção destes materiais? Na China. De repente, as áreas de suprimentos de hospitais do mundo inteiro buscavam na China, a solução para o seu problema de abastecimento. Só que não. Nenhuma empresa está preparada para uma demanda deste porte, e além de tudo não programada. Portugal passou a concorrer com outros países da Europa na compra destes produtos. Como se isso não bastasse, a pandemia acentuou-se nos Estados Unidos, que entraram no mercado comprando estes produtos. A indústria têxtil portuguesa estava a sentir o reflexo da queda de suas exportações, e das vendas para o mercado interno, devido ao estado de emergência decretado em 18 de março. Foi então que, algumas fábricas que estavam paradas, rapidamente, começaram a aproveitar a ociosidade para produzir máscaras e demais peças para vestimenta do pessoal da saúde. Uniram-se à estas fábricas, produtores de roupa de cama e higiene. As empresas arregaçaram as mangas e começaram a produzir. Contudo, havia um problema: como essa indumentária ia para à área da saúde havia a necessidade de seguir certas normas específicas do setor. E aí, mais uma vez entrou o CITEVE, que rapidamente, em parceria com o pessoal da saúde, desenvolveu as normas e elaborou fichas técnicas para a certificação dos produtos. Assim, a indústria têxtil portuguesa passou a atender uma boa parte do mercado interno, e já estão de olho no mercado europeu, para abastecer não apenas o setor da saúde, mas também, o consumidor final, uma vez que a máscara parece que veio para ocupar um espaço no mundo fashion! Se a indústria portuguesa sairá mais forte da crise económica que se visualiza, ainda é cedo para dizer, mas com certeza, parte do impacto sera amortizado por uma resposta rápida, precisa e conjunta. É um exemplo de resiliência e superação. Com certeza a indústria não será a mesma neste novo normal, mas novas oportunidades surgirão, e é preciso estar preparado. Sites consultados: https://www.citeve.pt/ https://publico.pt/2014/12/21/economia/noticia/um-quarto-de-seculo-depois-a-industria-textil-volta-a-mostrar-a-sua-fibra-1680051 https://www.rtp.pt/noticias/economia/setores-textil-vestuario-e-calcado-preocupados-com-prolongamento-da-crise_n1207021 https://www.publico.pt/2005/05/29/jornal/rua-da-industria-testemunha-decadencia-fabril-da-covilha-23008 https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2020-03-27-Costa-visitou-industria-textil-para-ver-os-testes-a-producao-de-mascaras https://observador.pt/especiais/turismo-textil-vinho-o-coronavirus-e-mau-para-quase-todos-os-negocios-talvez-a-carne-seja-excepcao/

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