Critérios ESG são mais do que indicadores, eles são a base para a tomada de decisões estratégicas
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Critérios ESG são mais do que indicadores, eles são a base para a tomada de decisões estratégicas



O círculo representa a biosfera e os triângulos cada um dos três objetivos do WCS:

  • manutenção de processos ecológicos essenciais e sistemas de suporte de vida;

  • preservação da diversidade genética; e

  • utilização sustentável de espécies e ecossistemas.

Fonte: Adaptado do relatório World Conservation Strategy


O ESG está baseado em um comportamento: Ambiental, Social e Governança


O desempenho ESG corresponde ao comportamento da empresa em relação ao meio ambiente (environment), à sociedade e a governança. Eles variam de acordo com: a região, o setor, e a empresa propriamente dita. Podemos tomar, por exemplo, o desempenho ESG de uma empresa em um país desenvolvido, suas ações podem estar mais relacionadas aos impactos ambientais, tais como embalagem, descarte de produtos pós consumo, uso de energia renováveis, entre outros. Por outro lado, o desempenho ESG da mesma empresa em um país em desenvolvimento pode se referir à questões sociais. Não quero dizer que as questões ambientais deixaram de ser importantes. Elas continuam a ter importância, e serão avaliadas. Porém, neste país, as questões sociais são mais prementes. Deste modo, além das questões ambientais, a empresa irá se preocupar também com as questões sociais, e muitas vezes as ações sociais poderão se sobrepor, dando a impressão que a empresa só investe no "S".

Vamos analisar agora, uma empresa do setor de energia. Essa empresa investe bastante em energia renovável, tem trabalhado bastante para reduzir seus impactos no meio ambiente, a primeira vista, parece ser uma oportunidade de investimento. Porém, essa empresa possui sérios problemas com seus funcionários, o que pode levar a empresa a ter um elevado passivo trabalhista, pronto! É um investimento de risco. Uma coisa não compensa a outra. Apesar de os indicadores serem independentes, é feita uma análise da empresa como um todo. E um indicador positivo, não compensa um negativo.

Uma outra consideração a ser feita é que o peso dos indicadores pode variar de um setor para o outro. A economia de água pode ter um peso maior para a indústria e bebidas, do que para uma empresa de serviços. Então, a preocupação em como uma empresa do setor de bebidas lida com a questão da água, será maior do que o uso da água por uma empresa de serviços. Mas cuidado, isso não quer dizer que a água não é um elemento importante, e sim que sua importância pode mudar de uma indústria para outra. Daí a importância em se observar o comportamento da empresa.

Não existe, portanto, uma receita de bolo pronta para avaliar as questões ESG, "cada caso é um caso", e muitas são as variáveis envolvidas. O importante é ter em mente que o que está sendo avaliado é o comportamento da empresa concernente à estas questões.


E onde entram os indicadores?


Estes comportamentos são avaliados por meio de indicadores, que muitas vezes compõem os relatórios não financeiros. Um indicador é uma ferramenta que permite: obter informações sobre uma dada realidade (Mitchell, 1996); fornecer uma pista para uma questão de maior significado; e tornar perceptível uma tendência ou fenômeno que não é imediatamente detetável (Hammond, et al., 1995, p. 1). Ou seja, os indicadores ajudarão a perceber o comportamento ao longo do tempo.

Assim, as empresas deverão traduzir esses dados qualitativos, em resultados quantitativos, a fim de traçar uma linha de conduta. Então, mais do que nunca, o armazenamento de dados não financeiros se tornou muito importante.

Os indicadores chaves de desempenho (KPIs) ESG medem o desempenho das ações (atitudes) da empresa em relação as suas práticas ambientais, sociais e de governança. Os investidores procuram colocar seu dinheiro em empresas que tenham KPIs relevantes e positivos. Este tipo de investimento é chamado de investimento responsável.

A análise dos critérios ESG serve para identificar os riscos ESG e oportunidades relevantes de investimento. Neste contexto, além de avaliar o resultado individual da empresa, avalia-se, também, o setor onde a empresa está inserida. Por exemplo: comprar ações de uma empresa que destrói o meio ambiente, ou polui o ar para realizar suas operações, é um investimento de risco. Por outro lado, as tendências de crescimento da sustentabilidade, como eficiência energética, acesso a alimentos, segurança e proteção, podem fornecer oportunidades de investimento.

Hoje, quero falar apenas dos critérios ambientais, e como esses critérios podem influenciar na estratégia das empresas. Os critérios sociais e a governança serão matéria de um post futuro.

No critério ambiental os indicadores referem-se ao "comportamento da empresa como guardiã do meio ambiente", notadamente, na conservação do meio ambiente. Estes critérios ambientais, normalmente, incluem fatores como:

  • uso de fontes renováveis ​​de energia;

  • programa de gestão de resíduos;

  • atitude em relação aos problemas potenciais de poluição do ar ou da água decorrentes de suas operações;

  • desmatamento (se aplicável);

  • atitude (e ações) da empresa em relação a questões relacionadas às mudanças climáticas;

  • fornecimento de matéria-prima;

  • práticas de conservação biodiversidade em terras que possui ou controla.

Mas como exatamente a conservação do meio ambiente se encaixa na tomada de decisões estratégicas e como agrega valor?



O comportamento é mais importante do que o número


A forma como a empresa cuida do meio ambiente, reflete a forma como a empresa cuida do seu negócio. Então, os indicadores apresentados devem corresponder as ações da empresa no curto, no médio e no longo prazo.

É extremamente importante garantir que os principais processos do ecossistema não sejam degradados a ponto de inviabilizar a área para qualquer atividade econômica. Se quisermos continuar vivendo com a qualidade de vida atual, esses ecossistemas precisam ser mantidos. Isso porque:

  • o planeta não pode continuar a suportar nossos números de forma sustentável;

  • muitas pessoas em todo o mundo são compelidas a destruir os recursos naturais para escapar da fome e da pobreza;

  • a base de recursos de grandes indústrias, como pesca, carne e silvicultura, está diminuindo; e

  • a energia que deveria ser empregada para aumentar nosso padrão de vida, se oriunda de fontes fósseis, tem um resultado contrário, prejudicando o meio ambiente.


Estratégias para conservação


"Os seres humanos, em sua busca pelo desenvolvimento econômico e aproveitamento das riquezas da natureza, devem aceitar a realidade da limitação de recursos e a capacidade de suporte dos ecossistemas e levar em consideração as necessidades das gerações futuras".


Esta é a mensagem de conservação. Pois:


se o objetivo do desenvolvimento é prover o bem-estar social e econômico, o objetivo da conservação é garantir a capacidade da Terra de sustentar o desenvolvimento e de sustentar toda a vida


Veja que interessante o trecho extraído do Prefácio do Relatório World Conservation Strategy, de 1980, que serviu de base para os trabalhos da Comissão Brundtlant, que resultaram no Relatório Nosso Futuro Comum, 1987.


Duas particularidades caracterizam nosso tempo:

  • A capacidade quase ilimitada dos seres humanos de construir e criar, acompanhada por poderes igualmente grandes de destruição e aniquilação.

As necessidades crescentes de números cada vez maiores levaram as pessoas a uma abordagem míope ao explorar os recursos naturais. O custo dessa abordagem agora se tornou gritante: uma longa lista de perigos e desastres, incluindo erosão do solo, desertificação, perda de terras agrícolas, poluição, desmatamento, degradação e destruição de ecossistemas e extinção de várias espécies. Esta situação reforça a necessidade de conservação, compreendendo a gestão ecologicamente correta dos sistemas produtivos e a manutenção da sua viabilidade e versatilidade.


A inter-relação global das ações, com seu corolário de responsabilidade global.

Isso, por sua vez, dá origem à necessidade de estratégias globais tanto para o desenvolvimento quanto para a conservação da natureza e dos recursos naturais.


O desenvolvimento e a conservação são igualmente necessários para a nossa sobrevivência e para o cumprimento das nossas responsabilidades como administradores dos recursos naturais para as gerações vindouras. A ideia de uma Estratégia de Conservação Mundial começou a ser discutida, em 1976. Apesar da emergência apontada no texto, muito pouco foi feito. Nossas empresas, e a sociedade como um todo, estão cada vez mais expostas às consequências das ações do homem sobre o meio ambiente.


As mudanças que estamos vendo no mundo passaram do espaço ativista da sustentabilidade para a corrente principal do comércio global.


Ilude-se quem ainda acredita que as questões ambientais fazem parte apenas de um discurso ativista de jovens e artistas. Cada vez mais esse movimento ganha força em todo o mundo, e transforma-se em uma forte barreira comercial.

Posto isso, a preocupação com o meio ambiente não está apenas no ambiente das empresas com ações em bolsa. Essa apreensão é percebida no meio empresarial como um todo.


Mito: as a empresa que não possuem ações na bolsa não devem se preocupar.


Mesmo que uma empresa não possua ações nos índices financeiros, ela deve se preocupar com as questões ambientais, "pelo amor ou pela dor ":

  • pressões da sociedade civil (que está cada vez mais informada) pode resultar no boicote à empresa. Veja por exemplo os casos da Nike e da Zara;

  • ao contrário, empresas que possuem ações ambientais, possuem ganho de imagem em relação ao mercado;

  • empresas que geram impactos ambientais são boicotadas da de cadeia de valor de grandes empresas. Empresas como Petrobrás, Volkswagen, Unilever, Walmart estão de olho no comportamento ambiental de seus fornecedores;

  • é cada vez maior o desejo de se possuir um relatório único de sustentabilidade, que permita a comparabilidade entre as empresas. O relato integrado, e o documento do forum econômico mundial comprovam essa tendência;

  • isso sem falar em redução de custos, atratividade de bons profissionais, ganho de reputação entre outras vantagens em se ter um comportamento ambiental adequado.

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