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Foto do escritorDenise Curi

E aí? Vai virar vegetariano (a)?


vegetariano

Muitas pessoas já estão aderindo a uma dieta mais balanceada e com menos proteína animal, principalmente entre os jovens. Mas será que isso é apenas um modismo ou uma tendência do mercado?


De acordo com o Boston Consulting Group, o mercado de "carnes falsas", ou seja, aquelas de origem vegetal, já está atraindo a atenção de alguns investidores. Isso porque a cada dia cresce o número de pessoas que estão aderindo à uma dieta com menos proteína animal. Esta mudança de comportamento está sendo impulsionada por algumas celebridades e influenciadores. A justificativa está relacionada tanto à uma melhor qualidade de vida e uma vida mais saudável, como a atitudes que contribuem para reduzir os impactos provocados pela agropecuária no meio ambiente.


A fim de acompanhar esse movimento, algumas grandes redes de fast food, como o Burger King, Dunkin' Donuts e Starbucks, já estão aderindo à carne de origem vegetal. Até mesmo a maior processadora de carne dos EUA (Tysson Food Inc) ingressou neste mês com sua própria linha de produtos de carne 100% vegana.


Em 07 de junho deste ano, a organização Oxfam Internacional publicou um artigo em que afirma que as economias dos países do G7 podem ter uma perda média de 8,5% ao ano até 2050 - equivalente a US $ 4,8 trilhões - se os líderes não tomarem medidas mais ambiciosas para enfrentar as mudanças climáticas. Este valor equivale ao dobro do valor gasto com a COVID-19.


Neste contexto, apenas a substituição dos combustíveis fósseis por outros de origem renovável não é suficiente. É preciso um esforço maior, notadamente, nos países mais desenvolvidos.


Será que a carne é o "carvão" da vez?

Não é segredo para ninguém que boa parte da emissão de gases do efeito estufa (GEEs) está relacionada aos rebanhos bovinos, suínos e caprinos. O sistema digestivo dos animais ruminantes fermenta os alimentos em vários compartimentos do estômago, arrotando metano, um gás de efeito estufa 25 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono.


Quantidade CO equivalente por 100g de carne

Dentre os ruminantes, a situação dos bovinos é ainda mais complicada! Devido a vida relativamente longa do gado em comparação com outras fontes de alimento, seu impacto climático é ainda maior, conforme mostra a figura ao lado. O gado (criado para fins alimentares - como para carne ou para leite - bem como aquele criado para produção de itens não comestíveis - como esterco e força de tração) são as espécies animais responsáveis ​​pela maior parte das emissões de GEEs, representando cerca de 65% das emissões do setor pecuário. Isso sem contar o desmatamento para a abertura de pastos.


Em muitos locais, principalmente no Brasil, a abertura de pastos é responsável por grande parte do desmatamento. Entre 60% a 80% das áreas desmatadas da Amazônia são utilizadas para esse fim.


pegada hídrica para produzir um sanduíche de Peru
Fonte: www.foodprint.org

A água é outro fator super importante na produção de carne. Até o princípe Charles já falou sobre isso! A carne tem uma pegada hídrica muito maior do que vegetais e grãos. Para a produção de um quilo de carne bovina são necessários 15.000 litros de água. Noventa e oito por cento, da água, vão para regar o pasto, forragem [1] e ração que o gado consome durante sua vida. Onde a dieta do gado consiste principalmente em alimentos à base de grãos, como é o caso da produção pecuária industrial, a pegada hídrica azul é alta; onde a dieta do gado consiste principalmente de pasto e forragem, a pegada hídrica verde é alta [2].




A carne pode impulsionar a disseminação de novas pandêmias?


Agora, um número cada vez maior de cientistas estão relacionando o consumo de carne ao surgimento de doenças que afetam os humanos.


Em julho de 2020, a ONU publicou um relatório intitulado "PREVENTING THE NEXT PANDEMIC Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission" (PREVENÇÃO DA PRÓXIMA PANDÊMIA Doenças zoonóticas e como quebrar a cadeia de transmissão), falando sobre a governança da saúde em relação à produção de alimento.


Na verdade, algumas doenças vêm da forma como a sociedade cria, comercializa e come os animais. Neste sentido, o comércio de animais vivos e a ingestão de animais crús, parece que não é uma boa ideia!


Muitos vírus anteriores originaram-se na cadeia de produção industrial da pecuária.

  • Década de 1980: a produção de gado do Reino Unido começou a observar surtos de encefalopatia espongiforme bovina (doença da vaca louca) e sua variante humana equivalente à doença de Creutzfeldt-Jakob.

  • Em 1997: a gripe aviária (H5N1) foi rastreada até fábricas de frangos na China.

  • Em 2009: a gripe suína (H1N1) teve origem em fazendas de suínos no México e na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

  • Em 2020: uma possível nova cepa de COVID-19 foi encontrada em fazendas na Dinamarca, onde os visons são criados para casacos de pele.


E a pergunta que sempre faço ao leitor: como isso pode afetar o meu negócio?


O que está por trás de toda essa discussão?

Além dos impactos provocados pela carne na saúde humana e no clima, existe uma preocupação cada vez mais com as mudanças climáticas e, de que forma estas mudanças podem impactar os mais diferentes setores da economia. Hoje estamos falando da indústria da carne e agropecuária. Na semana passada falamos sobre o hidrogênio verde. Já comentei sobre a indústria têxtil. Mas podemos falar sobre qualquer setor da economia.


Sempre haverá um impacto e uma forma de mitigar esse impacto. A nossa reflexão é como podemos reverter esse quadro. Dez anos parece muito tempo, só que não! Dez anos passam em um piscar de olhos. Precisamos agir.


[1] Forragem é a denominação comum dada para a alimentação de animais, e também, para o revestimento do local onde os animais dormem e descansam.


[2] Água Virtual

A água virtual, primeiramente definida por Allan (1998), é o volume de água usado para fazer um produto, e é a soma do uso da água nas diversas etapas da cadeia produtiva.

A água virtual compreende três componentes de diferentes cores: as águas verde, azul e cinza.

· Água verde: é a água transpirada pela planta que vem da água da chuva armazenada no solo.

· Água azul: é a água em nossa superfície e reservatórios de águas subterrâneas. Na agricultura irrigada, a água azul é abstrata para manter a transpiração. É imperativo que seja usado com um alto nível de eficiência. O solo é um reservatório de armazenamento para a água verde que cai do céu, ou o que foi adicionado através da irrigação de reservatórios de água azul.

· Água cinzenta: é a água que se torna poluída durante a produção, digamos na agricultura por causa da lixiviação de nutrientes e pesticidas. O volume de água cinza pode ser quantificado calculando a água azul que seria necessária para diluir o corpo de água receptora a um padrão de qualidade aceitável.


Sites pesquisados:

1. United States Environmental Protection Agency. Greenhouse Gas Emissions. https://www.epa.gov/ghgemissions/overview-greenhouse-gases

3. Portal G1. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/09/13/recuperar-areas-de-pastagem-pode-reduzir-emissoes-de-gases-e-impactos-da-pecuaria-para-o-clima-diz-estudo.ghtml

7. https://www.oxfam.org/en/press-releases/g7-economies-could-lose-85-year-2050-without-more-ambitious-climate-action-oxfam




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